Conhecimentos sobre a água



Água, elemento vital

Costumeiramente se fala na água como um recurso hídrico, um termo que pode significar uma visão utilitarista, como se a água fosse simplesmente um bem útil e necessário para o funcionamento da sociedade humana. Muito mais que isso, todas as formas de vida e até mesmo Gaia, a mãe Terra, são constituídas por este elemento verdadeiramente vital e sagrado para muitas culturas.

Seja uma célula, uma planta ou um animal, sejam a atmosfera ou os solos, a água perpassa todos os espaços onde existe vida. Como um fractal, no qual as estruturas se replicam independentemente do nível de realidade, a quantidade de água existente no planeta é a mesma que compõe o corpo humano. Da mesma forma, a estrutura de capilarização dos rios é a mesma que permite fluir o sangue pelo corpo humano.

Portanto, afirmar que a água é um elemento vital é como dizer: não há vida na Terra sem a água. Partindo deste princípio, podemos entender que há muito mais em jogo quando se fala em gestão sustentável dos recursos hídricos do que os interesses dos diversos usuários envolvidos na partilha da água.

Isto é, quando o assunto é água, não vale a lógica do mercado de capitalizar os recursos naturais, transformá-los em commodities e fazer valer, na base do poder econômico e político, os interesses privados em detrimento dos interesses que, neste caso não são simplesmente sociais, mas dizem respeito a toda a existência de vida no planeta.



Água no Mundo

Apesar da enorme quantidade de água no planeta, uma pequena fração está disponível para consumo humano. Como você pode conferir na tabela, a água está distribuída nos oceanos e rios, nas geleiras, em aqüíferos e na atmosfera. Do total, somente 0,6 % serve para a humanidade saciar sua sede, a maior parte são águas salobras e calotas polares.

A distribuição da água no mundo é bastante desigual. Enquanto algumas regiões, como o Brasil, por exemplo, tem abundância de água, outros sofrem com a escassez do recurso e os diversos problemas oriundos: doenças, maior gasto de recursos públicos com saúde pública, conflitos sociais, poluição de rios, estuários e mares, redução nos estoques de peixes etc.

Ao mesmo tempo, a quantidade de água utilizada pelos diversos setores também é desequilibrada. A agricultura, atividade essencial para a produção de alimentos, é responsável por quase dois terços de toda a água usada no mundo anualmente, cerca de 69%. A indústria vem atrás, com 21% do total. O consumo doméstico, ou seja, a água usada para matar a sede, tomar banho, cozinhar etc, corresponde a 10 % do total.

Apesar da diferença, o uso na indústria e na agricultura (sobretudo as monoculturas) tem finalidade lucrativa. No consumo doméstico, a finalidade é a sobrevivência. Isto é, usamos mais água para produzir lucros para poucos do que para matar a sede das pessoas que passam sede.

Como se não bastasse, os dados atuais são mais que preocupantes e as projeções são realmente aterradoras. Segundo as Nações Unidas, hoje 1,1 bilhões de pessoas já sofrem com escassez de água. Ainda de acordo com a ONU, em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para necessidades básicas.



Água no Brasil

Cerca de 12% de toda a água doce do planeta está no Brasil, tornando o país e seus habitantes verdadeiros privilegiados no contexto global. Mas este privilégio é também motivo de preocupação. Já é sabido que, hoje, enquanto o país tem água de sobra, 1,1 bilhões de pessoas já sofrem com escassez do recurso e que até 2050 mais de 40% da humanidade sofrerá com o problema. Ou seja, provavelmente a água será um dos maiores motivos de conflitos políticos internacionais e, neste ponto, o Brasil já está no centro das atenções.

Apesar da grande quantidade de que o país dispõe, a distribuição de água pelo território nacional é bastante desigual. Há enorme quantidade em regiões populacionalmente densas e pouca em regiões com menos moradores. A bacia Amazônica, por exemplo, é a maior em disponibilidade hídrica de todo o globo, entretanto, é a região brasileira menos habitada.

O Nordeste é a região brasileira que mais sofre com a falta d’água. Lá, onde a seca e conseqüente escassez podem durar meses, o abandono de terras e a migração para grandes centros urbanos acontecem com freqüência. Com o aumento da população nas capitais e regiões metropolitanas como Rio de Janeiro, São Paulo ou Santos, o resultado é o agravamento da escassez de água nestes lugares. Como vimos acima, o Brasil tem muita água, mas a maioria está em lugares distantes dos centros urbanos, onde o uso doméstico é mais intensivo.

Nestas grandes cidades, o despejo de esgotos domésticos e industriais, aliado ao descarte equivocado de resíduos sólidos, está comprometendo seriamente a qualidade da água. Nas zonas costeiras, os impactos se estendem aos estuários (áreas de manguezal), praias e mares, pois toda a poluição é conduzida ao mar por meio dos rios. Já no interior do país e zonas rurais, o uso de agrotóxicos nas plantações ameaça a qualidade das águas subterrâneas, a exemplo do aqüífero guarani, um dos maiores reservatórios do país.



Água e Saúde Pública

A estrutura de captação, abastecimento, coleta e tratamento da água estão vinculadas à idéia de saneamento ambiental. O saneamento é um conjunto de ações sobre o meio físico com finalidade de controle ambiental que tem por objetivo prevenir e qualificar a saúde das pessoas. Além do abastecimento de água, envolve os tratos com esgoto e resíduos sólidos, coleta de água da chuva e controle de inundações e de vetores de doenças transmissíveis.

Um esgoto mal cuidado e a disposição inadequada do lixo podem poluir os córregos e rios, ocasionar doenças e inflar gastos com tratamento de água e em saúde pública. Doenças como diarréias, podem ser prevenidas a partir do cuidado com as águas dos rios e mais eficiência na coleta de lixo. Os resíduos sólidos em decomposição, sobretudo orgânicos, atraem ratos e outros transmissores de doenças e, em caso de inundações, são comuns contamições por leptospirose, por exemplo.

Pelo viés do saneamento é possível entender a complexidade e importância da água com boas condições de consumo para a qualidade de vida das pessoas e, mesmo, o funcionamento adequado da esfera política. A própria capacidade da criança se desenvolver adequadamente e participar positiva e ativamente em seu processo educativo está na garantia de uma boa saúde e alimentação.

Portanto, mais que investimentos em ações e programas de caráter corretivo relacionados à saúde do povo, o necessários são medidas preventivas. O saneamento ambiental, como meio infra-estrutural de buscar melhoras no quadro de saúde da população, deve ser uma das prioridades de investimentos do setor público.



Água e energia

Considerada mais limpa e barata, mais de 90% de toda a geração e consumo de energia no Brasil é de matriz hidrelétrica. As outras fontes da matriz energética nacional são os combustíveis fósseis, a energia nuclear e, sobretudo no nordeste, vem se desenvolvendo a produção de energia eólica, produzida com a força do vento.

Esta grande priorização da matriz hidrelétrica vincula diretamente a produção de energia à disponibilidade hídrica, implicando num tipo intenso de uso dos nossos rios voltado para uma necessidade básica da população: energia elétrica.

A geração de energia hidrelétrica é alimentada por rios após a construção de barragens ao longo do percurso. Apesar de barata e considerada “limpa”, os custos sociais e ambientais resultantes da construção de barragens são relevantes demais para serem desconsiderados. Para a instalação de barragens se faz necessário o alagamento de grandes áreas, onde geralmente moram comunidades indígenas, quilombolas e pequenos lavradores, que acabam sendo expulsos de suas terras.

As árvores existentes nestas mesmas terras alagadas comumente não são retiradas para antes da inundação, causando o apodrecimento das árvores e a liberação de gases tóxicos como o metano e o carbono, que tanto colaboram com a potencialização do conhecido “efeito estufa”. A usina de Tucuruí, no Pará, é um exemplo deste acontecimento.

A quantidade de água consumida para uso doméstico, ou seja, em nossas casas, é bastante inferior ao uso industrial, voltado à produção de bens de consumo. O mesmo acontece com o consumo de energia, muito mais intenso nas indústrias que nas residências da população. Este fato permite um questionamento sobre os beneficiados da utilização da água na geração de energia, pois se configura um favorecimento desequilibrado do mercado em detrimento da sociedade.



Água e mudanças climáticas

Ao longo de um processo que durou bilhões de anos, a Terra criou o conhecido chamado “efeito estufa”. Ao contrário do que diz o senso comum o efeito estufa não é negativo para o planeta, é ele que garante a estabilidade da temperatura para que existam as atuais condições propícias para o desenvolvimento da vida como a conhecemos.

O efeito estufa é produzido, principalmente, pela presença de água e carbono na atmosfera, elementos responsáveis por reter o calor do sol na Terra. Portanto, quanto mais carbono no ar, mais quente o planeta será. E quanto mais vapor no ar, maior a possibilidade da ocorrência de fenômenos climáticos extremos.

A regulação da quantidade de carbono na atmosfera foi alcançada num processo que durou bilhões de anos, equilibrando as áreas do planeta com cobertura vegetal. É a transformação do carbono em biomassa (principalmente florestas) o meio mais efeciente que a natureza criou para retirar carbono da atmosfera.

A distribuição das florestas no mundo está totalmente relacionada com o regime de águas de planeta, ou seja, é a posição das florestas no mundo que dita a movimentação do ciclo hidrológico planetário. Ou seja, onde há florestas há, também, maior disponibilidade hídrica, um dos motivos pelos quais grandes centros urbanos sofrem com escassez de água.

Mas como isso pode nos afetar?

Grande parte das chuvas da região Sudeste, por exemplo, são oriundas da região Amazônica e viajam para cá na forma dos chamados “rios voadores”. Estes são extensas e densas nuves, com enorme quantidade de m³ de água, que conduzem praticamente toda a umidade existente na macro região mais rica do Brasil. Com as previstas mudanças no regime hídrico do planeta, algumas partes da Amazônia já está em processo de savanização, isto é, se transformando em semiárido. Estas alterações podem afetar gravemente o regime de chuvas da região Sudeste, comprovando que a água é um elo planetário que não respeita as fronteiras da humanidade.



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